quarta-feira, 1 de abril de 2009

S. CLEMENTE DE ROMA e a EPISTULA AD CORINTHIOS (c. 96 d.C): apelo à obediência e unidade eclesial (1ª parte)

A Carta de Clemente de Roma aos Coríntios (1 Clem) é o primeiro documento patrístico cujo autor e data aproximada de composição se podem determinar com bastante clareza.

A enorme estima e autoridade de que gozava Clemente, bispo de Roma, é comprovada pela subsistência do único documento que dele possuímos, um dos mais importantes documentos do período sub-apostólico e que esteve durante algum tempo integrado no cânone do NT nas igrejas do Egipto e da Síria, onde era lido e meditado no decorrer das celebrações litúrgicas.

A Carta aos Coríntios tornou-se efectivamente um documento de suma importância no emergir da identidade cristã.

Vamos, então, referir-nos hoje ao autor desta Carta:

Segundo a lista mais antiga dos bispos romanos chegada à posteridade por Santo Ireneu (AH III,3,3,), Clemente foi o terceiro sucessor de Pedro, em Roma, tendo tido contactos tanto com Pedro como com Paulo. Do mesmo modo, o famoso historiador cristão da antiguidade- Eusébio de Cesareia (HE III,15,34)- menciona também Clemente como terceiro sucessor de S. Pedro, fixando o início do seu pontificado no ano doze do reinado de Domiciano e o fim no reinado do imperador Trajano. Por outras palavras, Clemente foi papa desde o ano 92 ao ano 101 e a liturgia romana celebra o seu martírio a 23 de Novembro tendo-lhe inscrito o nome no cânone da missa.

Na sua Carta, Clemente nunca fala na primeira pessoa nem se men-ciona a si mesmo. Quem envia a carta é a “Igreja de Deus peregrina em Roma”. Quando se refere a si mesmo, utiliza o pronome plural “nós”. Não obstante, a obra foi composta, sem dúvida alguma, por uma só pessoa, pelo que se pode comprovar através da unidade de estilo e pensamento que nela transparece. Pelo que se pode concluir da análise do seu estilo, o autor parece ser de origem judaica, devido às citações frequentes que faz do AT e teve em conta que a sua mensagem teria uma repercussão mais pública que privada. Daí que a Carta esteja muito elaborada e adornada com bastantes figuras retó-ricas.

Quanto à data de composição da Carta, pode afirmar-se que a mesma terá sido redigida sob a perseguição de Domiciano, pois que na própria Carta Clemente refere-se aos “inesperados e sucessivos eventos e adversidades que sobrevieram” para os cristãos (I,1). Ora, tais eventos dizem provavelmente respeito à propaganda persecutória que decorreu entre os anos 94 e 96, sob Domiciano. De facto, e segundo a opinião mais corrente entre os patrologistas, a Carta teria sido, pois, redigida na etapa final do reinado deste imperador, no decurso da trégua que se seguiu à perseguição empreendida pelo mesmo, ou seja, durante o ano 96 d.C.

Drª. Teresa Pereira

Sem comentários:

Enviar um comentário